5 de maio de 2010

As melhores coisas da vida?

Fomos assistir ao novo filme da Laís Bodanzky (Bicho de 7 cabeças e Chega de Saudade), As Melhores Coisas do Mundo (Brasil, 2010) de maneira despretensiosa, mesmo tendo gostado muito dos outros dois, e talvez por isso mesmo que tenhamos sido surpreendidos. O filme não é mais um filme para adolescentes, mas sim sobre o atual universo adolescente, talvez um pouco mais puxado para os adolescentes da famigerada classe média.

Laís faz um retrato e aponta o dedo para algumas das feridas da adolescência desta loucura destes novos tempos de super informação, globalização, ou como diria Bauman, da modernidade líquida. mano (Francisco Miguez) é um adolescente de 15 anos que tem o sonho de tocar guitarra para chamar a atenção de uma das garotas populares da escola, com uma melhor amiga (Gabriela Rocha) "cabeça" e "gente boa" que formam uma turminha com outros garotos com atitudes tipicamente da fase.

Os celulares, notebooks e blogs invadem as cenas - coisas que até da minha adolescência, que não faz tanto tempo assim, não faziam parte - os pais (Denise Fraga e Zé Carlos Machado) estão se separando, por um motivo muito mais anormal do que ele poderia imaginar e o irmão mais velho (Fiuk) sofre intensamente com esta separação e com o relacionamento, um tanto quanto dramático, com sua namorada. Sua melhor amiga se apaixona pelo professor, as fofocas se multiplicam pelos SMSs trocados entre os alunos, assim como a "pegação".

Enfim, o tema tinha tudo para cair em mais um filminho adolescente, mas o roteiro é bem elaborado, aborda sutilmente questões que hoje afetam muito os adolescentes, incluindo até mesmo uma crítica às aulas ou professores absolutamente desinteressantes que ainda persistem em aparecer desta forma desestimulante nos currículos escolares.

Vale a pena conferir o atual “mundo adolescente” pelos olhos de Laís. Eu recomendo e confesso que fiquei aliviada de ter passado esta fase turbulenta de nossas vidas em outra geração que me pareceu, depois deste filme, um tanto quanto mais interessante, ou menos cruel.

Está em cartaz. Para saber mais clique aqui.


As Melhores Coisas do Mundo
Brasil, 2010
Direção: Laís Bodanzky
Elenco: Franciso Miguez, Fiuk, Denise Fraga, Zé Carlos Machado, Gabriela Rocha
107 min

9 de abril de 2010

A Vida dos Outros: Imperdível

Este é um pouquinho mais antigo, acho que assisti no cinema em 2008, mas estes dias ele voltou para minha cabeça por termos assistido um pedacinho dele na TV. A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen) é um filme alemão de 2006 que é primoroso. A história traz à lembrança o 1984, de George Orwell.

O maior dramaturgo da Alemanha Oriental, Georg Dreyman (Sebastian Koch), que aparentemente é um exemplo de cidadão e não contesta o regime político alemão, passa a ser investigado a mando do ministro Bruno Hempf (Thomas Thieme) por suspeitar que ele possa estar escondendo algo. Gerd Wiesler (Ulrich Muhe) é quem no final das contas fica com esta missão e monta uma estrutura parra vigiar Dreyman e sua namorada, a atriz Christa-Maria Sielan (Martina Gedeck) por 24 horas. O desfecho desta investigação é supreendente e segura bem as mais de 2 horas de filme. Ulrich Muhe rouba a cena com uma interpretação impecável.


Como já não está mais no cinema, é ótimo pra assistir nesses dias frios que estão chegando debaixo das cobertas.

A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen)
Alemanha, 2006, 137 min
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Elenco: Martina Gedeck , Ulrich Mühe , Sebastian Koch , Ulrich Tukur , Thomas Thieme

7 de abril de 2010

Belíssimo Argentino

Clap Clap Clap! Belíssimo este filme argentino que ganhou o Oscar deste ano como Melhor Filme Estrangeiro, baseado no livro "La pregunta de sus ojos", do escritor argentino Eduardo Sacheri.

O roteiro é gostoso, o filme tem ritmo, e apesar de ser um drama - policial e suspense também - tem um sutil toque de humor bem bacana. Benjamín Espósito (Ricardo Darín - o mesmo de O Filho da Noiva) acaba de se aposentar no Tribunal Penal de Buenos Aires e resolve se dedicar a escrever um romance sobre um violento assinato que investigou em 1974. Na época, na qual a Argentina sofria um intenso ciclo de violência política, Espósito, por conta do aprofundamento da investigação, havia colocado sua vida em risco. Ao retomar estas lembranças, ele volta ao passado, reavivando uma antiga paixão e transformando seu presente com alguns desfechos bem interesses.

Vale muitíssimo a pena!

O Segredo de seus olhos (El secreto de sus ojos)
Argentina, 2009
Direção: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pabro Rago e Javier Godino.

22 de fevereiro de 2010

Mandela de Eastwood e Freeman


Clint Eastwood ganhou minha admiração na direção de filmes como Sobre Meninos e Lobos (2003), Menina de Ouro (2004) e Gran Torino (2008), por tamanha sensibilidade e tantas outras coisas, não que já não carregasse em seu currículo muita coisa bacana. Seu prestígio para mim veio se confirmar agora com um filme bastante especial, Invictus, que traz um "personagem" mais que importante, Nelson Mandela. Morgan Freeman é quem interpreta com maestria este personagem, seu Mandela é inacreditavelmente parecido com o real - tendo recebido a "benção" do próprio para representá-lo.

Tendo acabado de ser eleito presidente da África do Sul, depois de anos de prisão, Mandela se depara com um país claramente separado em decorrência do apartheid e encontro no esporte, o Rúgbi e na Copa do Mundo de Rúgbi, uma grande oportunidade para unir a população. Mandela, a partir daí, busca estimular o time, que é um fiasco e claramente apoiado apenas pelos brancos, a mudarem esta percepção da população e buscar a vitória focada em uma mudança maior desta nova nação.

Mandela é inegavelmente um personagem forte, de imenso respeito e admiração, mas a escolha deste foco, o esporte, e do ator, torno-a ainda mais forte e, ao mesmo tempo, sensível, mesmo se falando de um esporte aparentemente tão agressivo. Poderia ser melhor, talvez sim... Mas, impossível não se emocionar.

E claro, bastante oportuno para o ano de 2010.

Invictus (2009)
EUA, 2009 - 134 min
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Anthony Peckham, baseado em livro de John Carlin
Elenco: Morgan Freeman e Matt Damon

27 de janeiro de 2010

Alain Resnais em dose dupla

O melhor filme que assisti em 2008, em minha modesta opinião, foi deste cineasta francês que hoje já contabiliza 87 anos, o Medos Privados em Lugares Públicos (Couers, França/Itália, 2006). Neste início de ano assisti mais um dele de encher os olhos de cinema arte: Ervas Daninhas (Les Herbes Folles, França, 2009) e, ambos, mais que recomendo para os adoradores da sétima arte. Mas já aviso, para quem não gosta muito de filmes que não tenham começo, meio e fim e grandes conclusões ou explicações, melhor não se arriscar nestes...

Resnais é reconhecido pelo abstrato, mas estes dois filmes, pelo menos para mim, não são tão abstratos assim. São dramas misturados com um certo humor sutil ou algumas vezes bem marcado, diálogos fantásticos e cenas lindíssimas - íssimas.

Medos Privados em Lugares Públicos foi amor à primeira vista. São seis personagens que têm suas histórias de maneira ou outra conectadas, em plena gelada Paris - com muita, muita neve -, em busca de um pouco de calor humano, relacionamentos. São personagens de características bem marcadas, cenários com bastante cara de cenário o que faz com o foco, ao meu ver, fique nos personagens. Ponto altíssimo: cena na cozinha com a neve metaforicamente caindo lá dentro. Absolutamente intenso e apaixonante. Achei a escolha do nome deste filme em português fantástica, é, literalmente, a cara do filme - o que nem sempre acontece -, e absolutamente contemporâneo.

Ervas Daninhas também vem com cenas muito bem trabalhadas e belas, com muito mais cores vibrantes e com uma forte característica do imaginário coletivo parisiense: as histórias de amor. De uma bolsa roubada, surge uma obssessão e uma sucessão de episódios que beiram uma certa loucura e dão gás para um surpreendente desenrolar do roteiro. Uma cena lindíssima: a de Marguerite (Sabine Azéma) usando um sobretudo vermelho aguardando a saída de Georges (André Dussollier) em um café em frente ao cinema.

Filmes deliciosos, prazerosos, de comer com os olhos!



Medos Privados em Lugares Públicos
Coeurs
França/Itália, 2006 - 120 min
Direção e Roteiro: Alain Resnais e Alain Resnais
Elenco: Sabine Azéma, Lambert Wilson, André Dussollier, Pierre Arditi, Laura Morante, Isabelle Carré, Claude Rich, Françoise Gillard
 
Ervas Daninhas
Les Herbes Folles
França, 2009 - 104 min
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Christian Gailly e Alex Reval
Elenco: André Dussollier, Sabine Azéma, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric, Anne Consigny.

5 de janeiro de 2010

Começando o ano com o pé direito: Almodóvar



Não, certamente não é o melhor dele, mas é mais um bom filme de Almodóvar. Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos), para mim, fica distante de outros dele, como Tudo sobre Minha Mãe, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e Fale com Ela, mas, ainda assim, é um encanto.

Tem a musa do diretor Penélope Cruz, como sempre linda e aqui com um toque de Audrey Hepburn, muita cor, muito movimento, muito close-up e clara paixão pela arte do cinema. Penélope é Lena, uma aspirante a atriz que consegue a chance de estrelar o filme Garotas e Malas do diretor Mateo Blanco (Lluís Homar) após se relacionar com um empresário milionário, seu antigo chefe. A história se desenrola a partir daí, com muito drama, romance e humor - um pouco negro, como é peculiar ao diretor.

Almodóvar faz referências a outros filmes, ou melhor, a estilos de épocas, como melodramas americanos da década de 50, mas o mais interessante para quem realmente gosta do estilo dele é que o Garotas e Malas utiliza, na verdade, o roteiro de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos – que já falei muito bem aqui -, então é delicioso ver algumas cenas sendo “regravadas” e acredito que já ter visto este filme dá uma pitada especial na hora de assistir Abraços Partidos.


Abraços Partidos
Los Abrazos Rotos
Espanha, 2009 – 128 min
Drama
Direção e Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Tamar Novas, Rúben Ochandiano, Lola Dueñas.

22 de dezembro de 2009

Woodstock de Ang Lee

Aconteceu em Woodstock, filme baseado no livro Taking Woodstock: A True Story of a Riot, A Concert, and A Life, se propõe a contar uma história diferente deste imenso festival que mobilizou milhões de pessoas no final da década de 60, meio que a história dos bastidores. Elliot Tiber (Demetri Martin) buscando salvar o super “resort” de sua família, leva o festival para a cidadezinha de White Lake, no interior de Nova Iorque, na qual era presidente da câmara de comércio, indo contra a vontade de quase todos os moradores.


Com direção de Ang Lee (Brokeback Mountain e Hulk) o filme tem um ritmo interessante, com ambientação gostosa, excelentes cenas e fotografia e personagens divertidos. Porém, entre milhões de hippies, paz e amor, artistas, trânsito, lama, baseados e alucinógenos, chega uma certa hora que o roteiro começa a se arrastar e acaba, em minha opinião, se juntando a um destes típicos filmes americanos com “moral da história”. Moral da história para o Woodstock? Hum, para mim não combina muito...

Para um festival de música também faltou música, mesmo que a intenção fosse manter o foco nos bastidores e no protagonista, ainda assim, senti falta disso.

Enfim, boa diversão!

Aconteceu em Woodstock
Taking Woodstock
EUA, 2009 – 120 min
Drama/Comédia
Direção: Ang Lee
Roteiro: James Schamus, Elliot Tiber (livro, Tom Monte (livro)
Elenco: Demetri Martin. Henry Goodman, Imelda Staunton, Emile Hirsch, Eugene Levy, Jonathan Groff, Mamie Gummer, Jeffrey Dean Morgan