27 de janeiro de 2010

Alain Resnais em dose dupla

O melhor filme que assisti em 2008, em minha modesta opinião, foi deste cineasta francês que hoje já contabiliza 87 anos, o Medos Privados em Lugares Públicos (Couers, França/Itália, 2006). Neste início de ano assisti mais um dele de encher os olhos de cinema arte: Ervas Daninhas (Les Herbes Folles, França, 2009) e, ambos, mais que recomendo para os adoradores da sétima arte. Mas já aviso, para quem não gosta muito de filmes que não tenham começo, meio e fim e grandes conclusões ou explicações, melhor não se arriscar nestes...

Resnais é reconhecido pelo abstrato, mas estes dois filmes, pelo menos para mim, não são tão abstratos assim. São dramas misturados com um certo humor sutil ou algumas vezes bem marcado, diálogos fantásticos e cenas lindíssimas - íssimas.

Medos Privados em Lugares Públicos foi amor à primeira vista. São seis personagens que têm suas histórias de maneira ou outra conectadas, em plena gelada Paris - com muita, muita neve -, em busca de um pouco de calor humano, relacionamentos. São personagens de características bem marcadas, cenários com bastante cara de cenário o que faz com o foco, ao meu ver, fique nos personagens. Ponto altíssimo: cena na cozinha com a neve metaforicamente caindo lá dentro. Absolutamente intenso e apaixonante. Achei a escolha do nome deste filme em português fantástica, é, literalmente, a cara do filme - o que nem sempre acontece -, e absolutamente contemporâneo.

Ervas Daninhas também vem com cenas muito bem trabalhadas e belas, com muito mais cores vibrantes e com uma forte característica do imaginário coletivo parisiense: as histórias de amor. De uma bolsa roubada, surge uma obssessão e uma sucessão de episódios que beiram uma certa loucura e dão gás para um surpreendente desenrolar do roteiro. Uma cena lindíssima: a de Marguerite (Sabine Azéma) usando um sobretudo vermelho aguardando a saída de Georges (André Dussollier) em um café em frente ao cinema.

Filmes deliciosos, prazerosos, de comer com os olhos!



Medos Privados em Lugares Públicos
Coeurs
França/Itália, 2006 - 120 min
Direção e Roteiro: Alain Resnais e Alain Resnais
Elenco: Sabine Azéma, Lambert Wilson, André Dussollier, Pierre Arditi, Laura Morante, Isabelle Carré, Claude Rich, Françoise Gillard
 
Ervas Daninhas
Les Herbes Folles
França, 2009 - 104 min
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Christian Gailly e Alex Reval
Elenco: André Dussollier, Sabine Azéma, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric, Anne Consigny.

5 de janeiro de 2010

Começando o ano com o pé direito: Almodóvar



Não, certamente não é o melhor dele, mas é mais um bom filme de Almodóvar. Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos), para mim, fica distante de outros dele, como Tudo sobre Minha Mãe, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e Fale com Ela, mas, ainda assim, é um encanto.

Tem a musa do diretor Penélope Cruz, como sempre linda e aqui com um toque de Audrey Hepburn, muita cor, muito movimento, muito close-up e clara paixão pela arte do cinema. Penélope é Lena, uma aspirante a atriz que consegue a chance de estrelar o filme Garotas e Malas do diretor Mateo Blanco (Lluís Homar) após se relacionar com um empresário milionário, seu antigo chefe. A história se desenrola a partir daí, com muito drama, romance e humor - um pouco negro, como é peculiar ao diretor.

Almodóvar faz referências a outros filmes, ou melhor, a estilos de épocas, como melodramas americanos da década de 50, mas o mais interessante para quem realmente gosta do estilo dele é que o Garotas e Malas utiliza, na verdade, o roteiro de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos – que já falei muito bem aqui -, então é delicioso ver algumas cenas sendo “regravadas” e acredito que já ter visto este filme dá uma pitada especial na hora de assistir Abraços Partidos.


Abraços Partidos
Los Abrazos Rotos
Espanha, 2009 – 128 min
Drama
Direção e Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Tamar Novas, Rúben Ochandiano, Lola Dueñas.